segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Carta para Indra

Ah, Indra, para entenderes o quanto eu amo a quem amo, minha deusa dos olhos de jade, terias de ter meus olhos, teria de vê-la como eu a vejo, oh, Senhor dos Céus.

Quando ela caminha o universo sorri, quando ela sorri o universo escuta, quando ela escuta o universo canta para ela, Senhor de Todas as Direções.

Não como explicar-te, oh, Indra, senão vendo por meio de meus olhos a beleza imortal daquela a quem busquei por entre mundos ignotos, distantes, hostis, belos, inesquecíveis...

Cada momento distante dela, Senhor de Todos Nós, é de indescritível sofrimento. Mesmo atravessando Naraka não me senti tão só e desamparado como quando longe dela estou.

Os ventos estelares de Alderabaram ainda cantam o nome de minha deusa... Por onde ela passou, Senhor Imortal dentre os Imortais, deixou um perfume de indelével doçura.

Minha deusa estremece o meu coração quando olha para mim. Por aqueles olhos eu enfrentei as rebeliões de Rigel e as hordas de Umma. Sim, meu Senhor Indra, eu enfrentei aqueles que faziam os corações mais bravos sentirem-se aflitos...

Minha deusa partiu cedo de uma de nossas múltiplas vidas e não mais a localizara desde então. Singrei perplexo o universo conhecido e desconhecido em vão tentando localizar-le alguma notícia. Mas, oh, meu Indra, mesmo em meio aos tormentos de minha alma solitária eu sabia, em meu coração, que minha deusa estava em algum lugar desse incomensurável cosmos que tu criastes e, embora impossível, dispus-me a procurá-la mesmo sabendo que poderia jamais achá-la de novo.

Eu jamais maldisse a minha sorte senão fiquei triste, mas jamais abatido nem desisti de ir em sua direção, fosse qual fosse. Eu estive em Kamaloka, eu estive em Naraka, eu enfrentei o indizível, eu lutei em Antares, Betelgeuse, Ríon, Devanya, Aurora, Sirius, Canopus e em mundos cujos nomes já sequer me recordo mais...

Em cada vida, cada existência eu mantive seus olhos em meu espírito e o amor como bússola a me orientar em uma jornada, talvez, sem destino certo, mas para mim, oh, meu Indra, a minha amada é tudo o que importa. Mesmo entre o fogo das regiões inferiores onde estive à sua procura - mesmo sabendo que um anjo não estaria por lá, mas já não sabia mais onde buscar - nem mesmo lá meu coração esqueceu-a.

Tu me perguntas como pode haver amor que desafia aos céus, às eras, aos mundos. Eu lhe respondo meu Senhor. Se tu tivesses os meus olhos, o meu coração, entenderia que jamais houve, há ou haverá outra como minha Abha, minha Yaçodhara, minha Yshadara, e tantos nomes quantas vidas tivemos...

Meu amor, Senhor Indra, é tão pleno quanto minha jornada ilimitada em busca de minha mais do que amada Abha. Mas, oh, ventura, oh, Senhor dos Senhores, quis Bhagwan Rama, em um átimo de compaixão por esse velho mestre e guerreiro sideral que eu a encontrasse no terceiro planeta a partir de um sol de quinta grandeza ao qual os locais chamaram Terra.

Minha alegria foi tanta que Sri Rama chorou comigo. E eu ainda choro, meu Indra, todas as noites, todos os dias... Choro de alegria, choro de tristeza... Encontrei-a em uma tarde inesperada... Quando ela entrou, oh, Senhor Indra, como poderei eu dizer-lhe o que me aconteceu na alma? Meu coração acelerou, minha frágil forma humana quase entrou em seus limites físicos ordinários.

Eu quis chorar, mas não podia, eu quis gritar-lhe, mas não podia, eu quis tudo e silenciei. Ah, meu Indra, se tu pudesses sentir por meio do meu coração terias chorado comigo como Sri Rama. Eu me tornei só amor e saudades. Mas, eis que Rama, o Amado, deu-me outra surpresa. Permitiu-nos um momento de reencontro para além das minhas mais do que cansadas esperanças. E, oh, Indra, eu me tornei de novo, Swami. Eu que tantas vezes ensinei e aprendi. Eu que tantas vezes deixei as formas dos diversos mundos em busca de minha amada imortal, tornei-me de novo senhor dos Caminhos Sagrados de Vamachara como outrora na distante Índia, Tibete e China.

E assim, meu Senhor Inolvidável, eu continuo...

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